July 05, 2016
Os judeus em Portugal - Idade Média
"Não vejo Portugal como país de «brandos costumes» nem me convencem as teorias que pintam, para a Idade Média, uma convivência idílica dos três monoteísmos (um caso mais em que projectamos no passado o que gostaríamos de viver no presente).
Mas, falando da população hebraica, há algumas ideias que devem ficar claras. Já os judeus haviam sido expulsos de alguns reinos europeus — sublinho: expulsos— e em Portugal ainda o representante máximo deste povo, o rabi-mor, fazia parte do Conselho do Rei, a elite das elites que assessorava politicamente o monarca; isso acontecia no tempo de D. Fernando, e o rabi estava lá não por ser judeu, mas sim na qualidade do tesoureiro-mor do reino, o que reforça a sensação de integração e não discriminação.
Pelo menos entre 1390 e 1395, nas restritíssimas reuniões da vereação do Porto, reservadas aos «melhores», estava sempre presente um Mestre Jani, judeu; em Loulé, nos momentos mais críticos e para decisões mais difíceis, são convocados os representantes das comunas judaica e moura. E, como tem sido lembrado, os médicos da corte e dos principais senhores eram judeus. Além disso, não havendo bancos no Portugal medieval e moderno, sempre que o Rei, os grandes senhores e a própria Igreja se viam em apertos financeiros, recorriam aos judeus para obter empréstimos. E sabe-se o tipo de relações que isso gera.
Os judeus e os mouros nem eram excluídos nem marginais. Como muitos estratos, classes, ocupações, como muitos doentes ou portadores de incapacidades físicas ou mentais, como os jovens, como as mulheres, eles eram parcialmente marginalizados; havia sectores da vida política, da vida pública, havia espaços, havia gestos, havia roupas, havia contactos e comunhões que lhes estavam vedados."
«História da vida privada em Portugal”. Marginalidade e marginais. Luís Miguel Duarte. 185